A demissão inesperada do coordenador do plano nacional de vacinação contra a COVID-19 surge numa altura ainda incipiente do processo e num momento em que persistem dúvidas e lacunas informativas sobre os procedimentos que devem ser concretizados para que, neste âmbito, Portugal consiga travar a pandemia. Neste sentido, a Convenção Nacional da Saúde endereçou prontamente ao novo coordenador, Vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, os maiores sucessos, manifestando total disponibilidade para cooperar nesta missão nacional, solicitando para o efeito uma reunião de trabalho digital.
A Convenção Nacional da Saúde – que reúne mais de 150 entidades do sector público, privado e social da área da Saúde – tem um propósito claro: acompanhar a concretização do Plano de Vacinação de modo a conseguir identificar, a cada momento, as limitações e os riscos que o país enfrenta e, deste modo, sugerir melhorias procedimentais que pretende partilhar com as autoridades públicas relevantes. Na história recente, nunca como hoje foi precisa a colaboração de todos para que as dificuldades sejam rapidamente vencidas em nome do nosso bem comum.
O nosso objetivo é literalmente vital: temos de vacinar o maior número de pessoas possível o mais depressa que conseguirmos. Muitas centenas de vidas dependem do êxito desta operação. Milhares de pessoas podem não ficar doentes. Se tudo for feito em tempo útil, o país inteiro pode, finalmente, começar a olhar para a frente com esperança e mais confiança.
Os primeiros passos do processo que nos permitirá recuperar o nosso modo de vida não podem, por isso mesmo, ser dados em falso ou sofrer as consequências de hesitações, lacunas ou erros evitáveis. Tem de ser bem planeado e muito bem executado. As características específicas destas vacinas, a dimensão da nossa população e o tempo que temos disponível tornam este processo especialmente complexo e exigente do ponto de vista logístico. A gestão dos recursos humanos também apresenta muitas dificuldades.
A Convenção Nacional da Saúde considera que existem cinco níveis importantes que têm de ser tidos em consideração pelo novo coordenador nacional. Primeiro, têm de ser mais bem identificados e melhor ordenados os grupos prioritários e o que fazer com as chamadas sobras, quando elas ocorrem. Os critérios desta definição têm de estar cientificamente justificados, têm de ser objetivos e serem tornados públicos.
À data de hoje há milhares de profissionais de saúde que ainda não iniciaram a sua vacinação e tal é inadmissível, quer em termos da proteção dos próprios e das suas famílias, quer em termos de saúde pública tendo em conta os múltiplos contactos diários que têm com pacientes. Os profissionais de saúde constituíam um dos grupos de primeira prioridade e, passado quase um mês e meio ainda muitos continuam por vacinar, ao mesmo tempo que se alarga a vacinação a outros grupos.
Ao mesmo tempo, é fundamental que haja uma comunicação adequada e permanente com a população. A forma como as entidades de saúde comunicam com as pessoas chamadas a receber a vacina ou à espera que chegue a sua vez, tem de ser direta, objetiva, simples e clara. É importante que, por exemplo, os doentes que não podem sair de casa saibam exatamente o que vai acontecer e como serão cuidados. Reduzir a ansiedade, a desinformação e o ruído são fatores decisivos para aumentar os níveis de confiança, segurança e bem-estar dos portugueses.
Aliado a este tema, a terceira preocupação prende-se com a necessidade da plena identificação de todos os cidadãos elegíveis para cada fase de vacinação. O processo deve ser simples, nomeadamente para os mais idosos e para os que têm menos acesso a meios informáticos, e abarcar todos os cidadãos que não têm médico de família ou habitualmente não são acompanhados pelos centros de saúde.
O quarto nível de preocupação tem a ver com a existência de condições logísticas que garantam, efetivamente, a cobertura territorial homogénea de Portugal. A desigualdade geográfica no acesso às vacinas seria a todos os níveis inadmissível, além de contraproducente do ponto de vista da saúde pública. Entendemos que é determinante alargar os locais de vacinação aos hospitais – privados e sociais – e às farmácias, ou seja, o plano de vacinação tem de aproveitar toda a capacidade instalada do país. É também fundamental conhecer com rigor o calendário de vacinação para as patologias consideradas prioritárias. Os doentes, que são certamente os mais vulneráveis à Covid-19, devem ser considerados prioritários e isso tem de ser explicitado e calendarizado.
Finalmente, é ainda imperioso que haja uma monitorização apertada da segurança – isto é, farmacovigilância – de cada uma das vacinas disponíveis e que isso aconteça a nível nacional e de forma permanente. A capacidade para intervir rapidamente no terreno é, neste sentido, obrigatória.
Para já, o “Plano de Vacinação contra a COVID-19” apresentado, além das informações que foram avançadas entretanto, não contém a informação necessária para que seja possível avaliar aspetos fundamentais de cada um dos cinco níveis referidos.
Aguardamos, por isso, mais e melhor informação em tempo útil. O vice-almirante Gouveia e Melo tem a oportunidade de corrigir este problema logo nos seus primeiros dias em funções. Este sinal inequívoco de abertura ao país encerra em si uma mensagem poderosa e mobilizadora: juntos somos mais fortes.