A Convenção Nacional de Saúde chama a atenção do Governo e das autoridades de saúde de Portugal para a necessidade urgente de acudirmos a todos os portugueses que necessitam de cuidados de saúde urgentes e imediatos e que não podem ser esquecidos.
Antes da pandemia da COVID-19 havia 50 mil portugueses a aguardar cirurgias e mais de 240 mil portugueses a necessitar, há longo tempo, de consultas de especialidade hospitalar.
Antes do surto epidémico COVID-19 o número de óbitos por outras doenças totalizava cerca de 113.573, em 2018, dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). As doenças do aparelho circulatório, as doenças cancerígenas, as doenças do aparelho respiratório, a diabetes e as perturbações mentais e de comportamento estão nas causas destas mortes.
Se nada for feito para tratar e ajudar os doentes portadores destas doenças o cenário pós-pandemia terá consequências dramáticas para muitos doentes e suas famílias, terá um custo evitável em termos de sofrimento e vidas humanas e observaremos nova acentuada degradação do Sistema Nacional de Saúde.
Salientem-se os impactos negativos na qualidade de vida da população mais idosa, sobretudo nos que padecem de doenças crónicas e têm uma idade acima dos 60 anos. Devemos estar especialmente atentos às pessoas que padecem de doenças neurológicas e neuro-degenerativas, reumáticas, imunológicas, oftalmológicas. Estas são doenças com taxas de morbilidade e hospitalizações elevadas e que causam enorme incapacidade quando mal diagnosticadas e tratadas.
A Convenção Nacional de Saúde alerta para o facto de no mês de março ter havido uma quebra abrupta no diagnóstico, acompanhamento e tratamento de outras doenças e tal é muitíssimo importante, tendo em conta as necessidades de cuidados de saúde dos portugueses e o grave risco do agravamento da sua situação.
A dimensão do problema atinge já proporções enormes e cidadãos, associações de doentes, médicos, enfermeiros, farmacêuticos e diversos académicos têm manifestado a sua apreensão. De facto, os episódios de emergência caíram 45%, a grande maioria das consultas externas e das cirurgias não urgentes foram adiadas. Houve uma redução de 95% dos exames de imagiologia e uma paragem quase total dos exames de gastroenterologia e de cardiologia.
Como referiu a Ordem dos Médicos, não podemos permitir que as curvas de outras doenças aumentem, nomeadamente as doenças crónicas como as cardiovasculares, a diabetes ou doença oncológica, e muitas outras, e cuja resposta adequada e tratamento imediato não pode ser adiado.
Os cidadãos portadores de doenças não podem ser esquecidos e o sistema de saúde tem de assumir que o que for adiado terá necessariamente efeitos muito negativos em termos de saúde no futuro. Todas as vidas são importantes. Não podemos deixar que morram mais pessoas do que as que morrem por causa da COVID-19 por redução drástica e paragem assistencial, por necessidade imediata de canalizar meios para o combate à pandemia em detrimento da prevenção e diagnóstico atempado e das cirurgias necessárias a doentes. Essa opção tinha que ser feita mas é tempo de ter um plano de recuperação da atividade.
Os cuidados de saúde necessários têm que ser garantidos, mesmo em tempo de emergência e, nesse sentido, a Convenção Nacional de Saúde propõe a ativação de um plano de emergência para retoma da atividade assistencial a todos os cidadãos portadores de doenças cuja letalidade é elevada em Portugal.
Tempos extraordinariamente difíceis exigem medidas extraordinárias e urgentes. Será muito importante que o sistema se adapte às necessidades e circunstâncias em que vivemos e, tal passa, por exemplo, pela generalização de teleconsultas sempre e quando tal for possível, bem como pela adoção de medidas que permitam que os cidadãos tenham acesso à medicação sem terem de se deslocar aos hospitais quando tal não for fundamental.
Para a realização de exames de diagnósticos, cirurgias e outros atos clínicos que exijam o contacto presencial dos doentes com os profissionais de saúde, o plano de emergência deve prever que todo o sistema de saúde – Serviço Nacional de Saúde, privados e setor social – possa ser envolvido para garantir a maior cobertura. Num momento dramático para os portugueses toda a capacidade do sistema de saúde nacional tem de estar ao serviço dos portugueses.