A Convenção Nacional de Saúde considera que a versão não consolidada do “Plano de Saúde para o Outono-Inverno 2020-21” fica aquém das necessidades de Saúde dos portugueses e ignora os problemas crescentes dos Cuidados de Saúde, provocados pela interrupção da atividade assistencial na fase inicial da pandemia.
Na primeira fase de resposta à pandemia, reagimos. Contudo, a aproximação desta nova fase deveria constituir-se como a oportunidade para planear. É salutar que exista um plano. Contudo, só podemos lamentar que este plano – que se resume a uma versão não consolidada – se arraste até ao dia 1 de outubro, sem que conheçamos a versão final, e que as autoridades continuem sem ouvir a plenitude dos agentes da Saúde, ignorando os contributos dos sectores privado, social e cooperativo.
Neste quadro, a Convenção Nacional da Saúde, entidade que agrega mais de 150 entidades do sector público, privado e social que atuam na área da Saúde em Portugal, exorta o Governo e as autoridades de Saúde de Portugal a encontrar uma solução que garanta uma resposta a todos os portugueses que, perante uma situação de doença, necessitam de Cuidados de Saúde. Uma resposta em tempo e em qualidade, independentemente da condição social, económica ou geográfica.
Este é um desafio que diz respeito a todos, pelo que só podemos olhar para o ecossistema da Saúde como um todo. A dimensão desta exigência, sem precedentes, obriga a uma resposta robusta e transversal, só possível através de um aproveitamento total de recursos e de uma articulação plena entre os sectores público, privado, social e cooperativo que trabalham na área da Saúde.
Portugal interrompeu, de forma programada, os Cuidados Assistenciais por forma a garantir a resposta aos doentes Covid-19 e para preservar a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS). A plena prestação de Cuidados de Saúde parou. No entanto, existem vidas para além da Covid-19. Importa tomar medidas urgentes por forma a prestar cuidados assistenciais de saúde a todos os doentes.
Nos últimos meses houve cerca de 10 milhões de consultas presenciais nos cuidados de saúde primários que não foram realizadas, quase 1 milhão de consultas nos hospitais do SNS que não foram feitas, cerca de 100 mil cirurgias que foram adiadas e muitos milhares de rastreios que ficaram por fazer, para além do regular acompanhamento de doentes crónicos.
A situação em Portugal é dramática quando já se sabe que a mortalidade total aumentou substancialmente nos últimos meses e quando o impacto dos cancelamentos de atividade começa a sentir-se. Acresce que estamos na fase do ano mais crítica em termos de saúde (Outono – Inverno), quando as instituições de saúde sofrem uma maior carga.
Este conjunto de fatores obriga a Convenção Nacional da Saúde a reiterar a necessidade de se implementar um plano extraordinário de recuperação da atividade assistencial ao mesmo tempo que todos os agentes do setor devem ser chamados a participar no esforço adicional que será necessário realizar na fase de outono-inverno. A saúde dos portugueses não pode (voltar) a parar e o Sistema tem que se preparar urgentemente para os desafios dos próximos meses.
A Convenção Nacional da Saúde reitera que as pessoas portadoras de doença, para além da Covid-19, não podem ser esquecidas e o Sistema de Saúde tem de assumir que o que for adiado terá necessariamente efeitos muito negativos em termos de saúde no futuro. Todas as vidas são importantes.
A Convenção Nacional da Saúde reconhece e agradece o trabalho desenvolvido por todos os profissionais de saúde no combate à pandemia da Covid-19 e nos cuidados prestados a todos os doentes Covid-19 e não-Covid-19. A sua dedicação em prol dos doentes deixa uma marca indissipável nestes tempos tão exigentes.