A terceira vaga de Covid-19 tem um impacto dramático em Portugal. O momento exige uma mudança de atuação para conter a infeção e para corrigir os terríveis efeitos provocados nas instituições de saúde e, em virtude disto, no acesso dos cidadãos a todos os cuidados médicos.
Neste sentido, entendemos que as declarações do Primeiro-Ministro, na sexta feira, 5 de fevereiro, são muito relevantes. “Quero aqui deixar uma palavra de agradecimento – disse o Primeiro-Ministro –, porque uma coisa é a agitação do debate político e outra coisa é a realidade. Desde março temos estado em contacto, temos trabalhado juntos, e o SNS e os hospitais privados e do setor social, ou das Forças Armadas, têm estado mobilizados sempre que necessário para responder a esta situação de pandemia”.
Como é sabido, a Convenção Nacional da Saúde é uma entidade que agrega mais de 150 entidades do sector público, privado e social que atuam na área da Saúde em Portugal, entre as quais se contam 70 associações de doentes, e a mensagem transmitida mereceu eco por traduzir a correta priorização da resolução dos problemas de saúde.
No mesmo evento público a Ministra da Saúde também reconheceu que “há muitas lições que vão sair desta pandemia e a necessidade de trabalhar ombro a ombro é uma delas. Se não fosse a nossa capacidade conjunta de falarmos, de nos organizarmos, construir pontes, certamente não teríamos respondido a muitos doentes e famílias”.
Este entendimento do aproveitamento total de recursos e da articulação plena entre os sectores público, privado, social e cooperativo que trabalham na área da Saúde está em linha com o que a Convenção Nacional da Saúde tem defendido para que possamos ter um sistema de saúde mais inclusivo, eficiente e sustentável.
A posição que assumimos, a 1 de outubro do ano passado, sobre o Plano Outono-Inverno – elaborado pela Direcção-Geral da Saúde – pretendeu, exatamente, alertar para o facto de não estarem a ser reconhecidos os contributos dos sectores privado, social e cooperativo e de estarem a ser ignorados os problemas crescentes dos Cuidados de Saúde, provocados pela interrupção/ adiamento da atividade assistencial “não Covid-19”.
Ainda esta semana, o Governo reconheceu terem ficado por realizar no Serviço Nacional de Saúde mais de 125 mil cirurgias, cerca de 12 milhões de consultas presenciais e a existência de muitos milhares de cidadãos que aguardam tratamento urgente, como os mais de cinco mil casos oncológicos já identificados. A verdade é que apesar dos anúncios oficiais desde julho do ano passado, até ao momento, ainda não foi constituída a task-force para a recuperação da atividade assistencial.
Apesar de tudo, os agentes da saúde continuam fortemente motivados e mobilizados para este esforço conjunto de combate nacional contra a Covid-19. Os cidadãos, a começar pelas associações de doentes, reclamam que o acesso a cuidados de saúde de qualidade e em tempo seja uma prioridade que tem que ir muito além das táticas políticas.
Neste sentido registamos que, nos últimos dias, o Governo tem defendido que se “neste momento, os testes são sobretudo preconizados para os contactos de alto risco”, estuda-se a “possibilidade de o teste ser mais abrangente, independentemente do risco do contacto” e gratuito para o cidadão. Este é um avanço claramente positivo quando está definida como uma absoluta prioridade para o país a quebra das cadeias de contágio. Acreditamos que, para além dos testes PCR, a utilização de testes de antigénio pode dar um contributo muito importante para a deteção precoce e para a testagem em massa em pessoas que têm que prosseguir com a sua atividade profissional.
Nestas circunstâncias, e por ser absolutamente urgente, a Convenção Nacional da Saúde apela ao Governo para:
- Vacinar. A crise sanitária decorrente do Covid-19 só pode ser ultrapassada com a rápida quebra das cadeias de contágio. A vacinação dos cidadãos, a começar pelos profissionais de saúde, de acordo com as prioridades estabelecidas e a articulação entre as instituições do sistema de saúde são aspetos essenciais.
- Testar. A vontade de alargar a utilização dos testes deve ser saudada. Defendemos que para uma testagem massiva em ambientes profissionais, se deve recorrer aos por testes de antigénio. É o único caminho que garante que os assintomáticos com capacidade para transmitir o vírus são detetados, possibilitando quebrar a continuidade dos contágios.
- Recuperar a atividade de prestação de cuidados de saúde. Por fim, e dado que a terceira onda da pandemia obrigou a nova interrupção de uma série de cuidados de saúde, a Convenção Nacional da Saúde reitera a necessidade de se implementar um plano extraordinário de recuperação da atividade assistencial, com cabal aproveitamento de todos os recursos existentes.
A Saúde dos portugueses não pode esperar e, como bem foi dito, este é o momento de trabalharmos “ombro a ombro”.