A Convenção Nacional da Saúde realizou, esta terça-feira, dia 26 de Outubro, a IV Conferência com o tema “Recuperar a Saúde, Já!”, no auditório da Associação Nacional das Farmácias.
Eurico Castro Alves, presidente da Convenção Nacional da Saúde, fez a abertura desta iniciativa que teve o Alto Patrocínio da Presidência da República e procurou apontar caminhos para o presente e futuro da Saúde ao serviço dos cidadãos.
“Esta conferência tem um ponto de partida e outro de chegada. O ponto de partida são os milhares e milhares de atrasos que se verificaram durante a pandemia. Consultas, tratamentos, cirurgias, exames e diagnósticos que ficaram por realizar. O risco é máximo. A urgência é máxima. O ponto de chegada é a resolução deste problema de saúde pública, esta segunda pandemia silenciosa”, destacou Eurico Castro Alves.
António Lacerda Sales, Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, participou na Sessão de abertura e destacou que o Ministério da Saúde “não podia estar de acordo com esta urgência” de recuperar a actividade assistencial.
O governante afirmou ainda ter lido o artigo que os bastonários presentes na plateia assinaram e em que pediram o levantamento rigoroso das carências e atrasos do SNS.
“Li a vossa carta senhores bastonários e deixem que vos diga que a vossa inquietação é a nossa inquietação. Esperamos nós e, sobretudo, espera o país, e esperam os cidadãos que possamos também continuar a contar com todos vós, ordens profissionais, associações de doentes, todos somos poucos para este desígnio. O interesse público é garantidamente superior a estados de almas e vaidades”, sustentou.
O primeiro painel da sessão de trabalhos, “O Retrato da Saúde Hoje”, foi apresentado por Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, que começou por destacar que “normalizar” é diferente de “recuperar” a actividade assistencial. “Quanto tenho uma enorme perda em termos de acesso a cuidados de saúde, se no ano a seguir [2021], consigo chegar a números semelhantes a 2019, estou a normalizar”.
O Bastonário apresentou ainda dados que mostram que quase metade dos médicos do país trabalham foram do SNS. “Optaram por sair e ir trabalhar para os sectores privado ou social ou ir trabalhar para outro país”, vincou.
É necessária “uma mudança”, em prol do SNS, para o “tornar mais robusto e com mais capacidade de resposta”, acrescentou ainda.
Após a intervenção de Miguel Guimarães, seguiu-se o debate sobre o “Retrato da Saúde Hoje” que contou com a presença de António Tavares, Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, de Ana Sampaio, da Associação Portuguesa da Doença Inflamatória do Intestino, e de Ana Castro, Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, que participou via streaming.
A “Saúde de Proximidade” foi o tema do segundo painel, introduzido por Ema Paulino, Presidente da Direção da Associação Nacional das Farmácias, e analisado por Pedro Ramos, Secretário Regional da Saúde e Proteção Civil do Governo Regional da Madeira, Hélder Mota Filipe, Presidente da Associação dos Farmacêuticos de Língua Portuguesa, e Liliana Gonçalves, da Associação Nacional de Cuidadores Informais.
O “Financiamento, Inovação e Acesso” foi o tema do terceiro painel da tarde, apresentado por António de Sousa Pereira, Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas. Para o analisar, ‘sentaram-se à mesa’ Óscar Gaspar, Presidente da Associação Portuguesa da Hospitalização Privada, Miguel Pavão, Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, e Joaquim Brites, da Associação Portuguesa de Neuromusculares.
Francisco Miranda Rodrigues, Bastonário da Ordem do Psicólogos, foi o keynote speaker do quarto painel, dedicado ao “Papel da Prevenção na Saúde”. Conceição Tavares de Almeida, do Programa Nacional para a Saúde Mental da Direção-Geral da Saúde, José Germano de Sousa, Médico e Responsável do Laboratório de Biologia e Patologia Molecular, e Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas foram os oradores.
O último painel da sessão incidiu sobre o PRR, nomeadamente sobre a investigação, a inovação e a digitalização da Saúde. Estes domínios foram analisados, em debate, por Francisco Assis, Presidente do Conselho Económico e Social, João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA, Paulo Gonçalves, da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, e Fernando Araújo, Presidente Conselho de Administração do Hospital de São João do Porto, que participou via streaming.
Na sessão de encerramento da conferência “Recuperar a Saúde, Já”, Ana Paula Martins, Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos e Vice-Presidente da Convenção Nacional da Saúde, deu particular enfoque ao momento que a sociedade atravessa, após um ano e meio de pandemia, e exortou o Governo a definir “com carácter de urgência, um plano de acção que garanta efectivamente a recuperação assistencial na saúde a todos os portugueses. Sim, hoje já não é possível ignorar a dimensão desta realidade que a Covid-19 muito acentuou”.
O evento foi encerrado pelo Presidente da República, que recordou estar “ligado ao nascimento da Convenção Nacional da Saúde”.
Houve um momento, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, em que um conjunto de personalidades de saúde falavam de uma ideia de tentar ultrapassar as barreiras, de incentivar o diálogo entre o público, o privado e o social, as várias ordens, os profissionais e os gestores. Promover o diálogo entre pessoas de vários quadrantes para tentar ultrapassar o último domínio que restou, até há poucos anos, de clivagem política, ideológica e doutrinária profunda na sociedade portuguesa”, a saúde.
Esta Convenção “foi exemplar, conseguiu atingir os seus objectivos. Diversificou-se, criou espírito de diálogo na sociedade portuguesa, ganhou o prémio dos direitos humanos da Assembleia da República este ano, atendeu o direito à saúde com uma visão aberta para uma sociedade democrática”, rematou.